Na bruma leve das paixões que vêm de dentro, a vacina veio chegando para resgatar o que a gente tem talvez de mais sublime – a capacidade do encontro, da troca. O compartilhar e encantar-se coletivamente. E, nesse verão pernambucano, a vida é bonita num quintal de Olinda, que abre suas portas aos domingos, para que soprem os bons ventos da cultura e da resistência.
Com uma programação musical diversa e a proposta de aproveitar a sombra das árvores nas tardes olindenses, a Prainha Criatura nasceu desenhando um outro modelo de entretenimento, mais desacelerado e suave, focado em cuidar das pessoas.

Foto por @fazemos.art
Em meio ao casario histórico da cidade, na Rua de São Bento – coladinho com a sede do tradicional e aguerrido bloco Eu Acho É Pouco -, o evento vai para a quarta edição. Acontece sempre a partir das 15h, na Casa Criatura, um centro de inovação, focado em novas economias (criativa, circular e compartilhada). Lugar perfeito para se experimentar uma modalidade de experiência cultural inclusiva e plural.
É diversão, mas é também posicionamento. É o que a gente pensa, quando vê crianças correndo pra lá e para cá, atentas aos artistas e a todo aquele saracotear de gentes diversas. Tem até atividades e recreadores para os pequenos, para que mães e pais possam se divertir, reencontrar amigos e, ainda assim, propiciar às suas crias um pouco de atividade cultural, longe das telas e em contato com a natureza.
Como separar divertimento de militância; cervejinhas e gargalhadas de comprometimento; dar as mãos numa ciranda e rebolar até o chão de consciência política? Essa compreensão se faz presente na seleção dos artistas, que busca conectar a tradição à contemporaneidade, organizar linguagens e estilos.
Seja na voz de anjo de Mateus Aleluia Filho ou no ataque das cornetas da envenenada Orquestra de Bolso, a curadoria é feita para nos lembrar que não existe povo sem cultura. E que um país que tem Juçara Marçal e Lia de Itamaracá segura a primavera nos dentes e não vai repetir os mesmos erros num ano eleitoral.

PÚBLICO USANDO MÁSCARAS Foto por @fazemos.art
Ativismo não precisa ser explícito – embora vez ou outra surja espontaneamente num grito da plateia ou numa versão marota de alguma canção. Mas convidar os blocos históricos da cidade para venderem suas camisas durante o evento, minimizando o desfalque provocado pela suspensão dos carnavais é um gesto de respeito pela tradição e pelos fazedores de cultura do lugar.
Nesse verão ainda insistentemente pandêmico, a Prainha tem tido preocupação redobrada com a segurança. Exige com rigor a comprovação da vacinação, antes mesmo de esta ser uma orientação governamental. E, no intervalo de cada apresentação, o evento reforça a importância de manter-se, sempre que possível, de máscara. Também reitera o pedido de compartilhar o cuidado com as crianças, como numa aldeia.

LIA DE ITAMARACÁ COM A BANDA PAULISTA METÁ METÁ Foto por @fazemos.art
Entre mangueiras, pés de fruta-pão e coqueiros majestosos, no último domingo (9), a Prainha celebrou a rainha maior, Lia de Itamaracá, no evento Pré-OFERENDAS em parceria com o Lalá multi-espaço de Salvador, numa grande ciranda. De mãos dadas, tradição e modernidade, Pernambuco e Bahia, natureza e centro histórico, juventude e ancestralidade. Marcando os passos de um caminhar coletivo e harmonioso, para que este janeiro seja a abertura de um verão de cultura e resistência.
CINCO MULHERES NEGRAS PARA ASSISTIR NO NPR TINY DESK
SOM VAI AO MERCADO DA MÚSICA NO URUGUAI
Patricktor4 é DJ e radialista, comprometido com música, cultura e comunicação, circulou por meio mundo em festivais e com o seu Baile Tropical. Fundou e esteve à frente da rádio Frei Caneca FM, emissora pública do Recife. Atualmente faz parte do time Midia NINJA contribuindo com a plataforma SOM.vc

Ju Rabello
12 de janeiro de 2022 at 20:51
Que energia incrível teve esse domingo!!! As mamães agradecem , as aproveitam! O espaço tem ladeira , tem natureza , olinda em pequenas doses, uma gente muito tranquila e consciente!!! Recomendo muito